Cadela UPP, ameaçada por traficantes, é adotada
por PM no Morro da Providência
Até os cães de rua que se aproximassem dos policiais da UPP do Morro da Providência, inaugurada em abril de 2010, eram punidos por pessoas ligadas ao tráfico. Um dos casos mais cruéis ocorreu com uma vira-latas, apenas dois meses após a pacificação. A cadela, que deixou de seguir as pegadas dos traficantes, foi jogada de uma pedra com altura equivalente a um prédio de dois andares só porque passou a andar com os policiais.
Quando um morador a encontrou no chão, ensanguentada e imóvel, ligou para o soldado Thiago Loureiro, que a alimentava e a abrigava com cobertores e caixas de papelão. Ao perceber a aproximação do policial, o bichinho só esboçou uma reação: balançou o rabo, como quem acaba de ver o dono.
Com a ajuda de um colega, Loureiro armou uma espécie de maca e levou a cadela a um veterinário na Tijuca, Zona Norte do Rio. O animal chegou lá com um coágulo no baço e suspeita de múltiplas fraturas. Depois, ainda foi a um dentista de cão para restaurar um canino quebrado. Loureiro pagou, com dinheiro do próprio bolso, um tratamento de R$ 3 mil.
O animal só recebeu alta depois de três dias de internação. E, dali, saiu para a casa de Loureiro com nome e carteira de vacina. A cadela, que nem nome tinha e era xingada de “cachorra traidora” por bandidos, passou a ser chamada de UPP.
UPP deu cria a nove cães. Loureiro conseguiu doar oito deles. Apenas uma outra cadela ficou: Luma, nome dado à filha da cachorra que carrega o nome da sigla da paz. A família ainda tem outros dois cães, Scolari e Nina.
Quando um dos animais chega perto de Loureiro, a dócil UPP começa a latir. Só ela pode ficar com o PM que salvou sua vida.
- Quando me formei fui direto para a UPP da Providência. Quando chegamos, encontramos vários cachorros de rua. Eu levava comida, cobertor e papelão para que se protegessem do frio. Os cães passaram a nos seguir. Tinha uma cadela branquinha que até atacava suspeitos de envolvimento com o tráfico. Alguns moradores diziam: “Olha lá os cachorros dos policiais”. Só que as pessoas ligadas ao tráfico não gostaram. A UPP acompanhava os bandidos. Depois, chamavam ela de “cachorra traidora”. Aí, teve esse acidente com a cadela e a minha mãe disse: “Pode trazer ela para casa”. A UPP é dócil, meiga. Adora um chamego. Só é ciumenta. Nenhum cachorro pode chegar perto de mim que ela começa a latir. Depois disso, sempre que acontecia algum problema com um cachorro, as pessoas me procuravam.
Fonte: extra globo